A seca é tão antiga quanto a perseverança do sertanejo

  • Redação
  • 21/05/2012 14:14
  • Edson Marques

Viver no sertão das Alagoas nunca foi fácil para ninguém, muito menos para o agricultor, o homem do campo, aquele que da terra busca meios para sua sobrevivência e de sua família. Constantemente tenho dito que esses sofridos trabalhadores são verdadeiros guerreiros, pois quase que anualmente enfrentam, sob muito sacrifício, longos períodos de estiagem: a famosa e temível seca do sertão.

Contudo, todo esse sofrimento só reforça ainda mais a afirmativa de que está na personalidade do sertanejo buscar vencer os seus objetivos passando por cima de todas as adversidades a ele surgidas. É claro que a Natureza não dá moleza, pelo contrário, quando bem quer, torna-se a autora e responsável por duros momentos na vida do Nordestino e, quando isso ocorre, tem-se aí um cenário dramático com duas forças: o sertanejo e a natureza.
Tenho depoimentos de antigos habitantes do município relatando fielmente e com uma dramaticidade necessária de como foi à famosa seca de setenta em Alagoas e, em especial, em Carneiros. Sem dúvidas, um dos momentos mais difíceis para a existência humana desses humildes maltratados sertanejos.

Sempre que eu relembro dos detalhes de como fora essa parte da história fatal para muitos habitantes fico tomado pela emoção, porque como humano que sou consigo me transportar àquela dura realidade da época e, atento aos relatos desses heróis que bravamente conseguiram sobreviver, me ponho naquele horroroso cenário quente, seco... infernal. Como eu agiria, sendo um pai - que hoje sou – ao ver a sede e a fome matar lentamente o meu filho? Eu suportaria? Sinceramente não sei dizer! O fato é que muitos não suportaram. Aqueles que não padeceram de sede e/ou fome foram embora, ou, aqueles que não suportaram e nem foram embora hoje estão apenas na memória dos que sobreviveram a esse horror.

Nesses históricos depoimentos dos quais alguns consegui armazenar, um em especial eu faço questão de exibir aqui na íntegra, trata-se do depoimento real, duro e verdadeiro do meu saudoso avô, ex-Prefeito de Carneiros, Sr. Valdemar Rodrigues Gaia. Ao assistir o vídeo, nitidamente nós podemos perceber o quanto o sertanejo depende da água da chuva para manter uma vida com um mínimo de dignidade. Ainda bem que essa providência não é da competência humana, mas da Divina.

Perceba, caro leitor, o quanto nós alagoanos somos fortes e ao mesmo tempo vulneráveis à ação na natureza, mesmo não tendo em nossa região fenômenos tais como terremoto, maremoto, tufão, etc.

Tenho a sensação de que viver anualmente temendo a seca (embora felizmente ela não ocorra anualmente) deva ser o preço - Justo ou não - que pagamos por estarmos em uma terra tão bela apesar dos pesares.

Assista o histórico vídeo AQUI, datado 27 de dezembro do ano de 1989.
Conheça quem foi Valdemar Rodrigues Gaia AQUI