Morre “Zé Capinha” – a maior figura folclórica de Pão de Açúcar

  • Helio Fialho
  • 31/05/2013 17:50
  • Cultura

Faleceu em Maceió, aos 88 anos de idade, na residência de familiares, onde estava vivendo os seus últimos dias, o marceneiro José Américo de Almeida, popularmente conhecido como “Zé Capinha”. Ele é considerado uma das pessoas mais populares de Pão de Açúcar. Criativo aos extremos, “Zé Capinha” tornou-se a maior figura folclórica da Terra de Jaciobá, em razão de suas peripécias e histórias pitorescas.

Durante a mocidade o filho do casal “Dedé e Isaura Capinha” tentou seguir a carreira de músico, tendo preferência pelo clarinete, chegando fazer parte da Jazz Banda do Maestro Nozinho.  Também gostava de futebol e era torcedor apaixonado do Clube de Regatas Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, Centro Sportivo Internacional, de Pão de Açúcar. Desprovido de talento para jogar bola, costumava jogar de lateral esquerdo e era comum dar cabeçada para atrás, marcando muitas vezes gol contra.

Mesmo assim, chegou a formar na equipe do Apolo 11 Futebol Clube, em 1969, por ser um dos fundadores deste clube criado por um grupo de dissidentes do Centro Sportivo Internacional, na época. O Apolo 11 ao enfrentar o Ipiranga de Santana do Ipanema, em um jogo na casa do adversário, foi goleado por 8x0, sendo que nesta partida o lateral esquerdo Zé Capinha marcou seis jogadores, que somente entravam no jogo com o intuito de dar uma pancada no folclórico lateral esquerdo.

No dia seguinte, as pessoas que encontravam Zé Capinha, logo perguntavam sobre o placar da partida e ele prontamente respondia: “marquei seis”, deixando a impressão que havia marcado seis gols. Depois as pessoas descobriam que as palavras do lateral esquerdo do goleado Apolo 11 não passava de uma brincadeira.

 Mas o que o folclórico Zé Capinha sabia mesmo fazer era móveis. A marcenaria de sua propriedade, na Avenida Bráulio Cavalcante, precisamente no treco da “Rua de Cima”, era considerada um ponto de encontro de jovens e adultos. Os temas das grandes e polêmicas discussões eram os mais diversos, com destaque para o futebol.

E por muito tempo fomos enganados por ele que sempre mostrava uma fotografia do time do Vasco da Gama, em preto e branco, e apontava para um jogador que tinha muita semelhança com o gozador marceneiro, dizendo ele tratar-se da época em que jogou no Vasco da Gama, nos idos de 1950. Mais tarde descobrimos que “Capinha” havia mentido, pois o jogador da foto tratava-se de Sabará, pois José Américo de Almeida jamais esteve no Rio de Janeiro.

 “Capinha” sempre encontrava uma forma humorada para criticar as pessoas, pois ele era um misto de crítico, irônico, anarquista, gozador, enganador e malandro. Certa vez foi assistir a um treino do Internacional, no antigo “Campo de Cima” e ao perceber as falhas cometidas pelo lateral esquerdo Melódia, ele começou a gritar insistentemente: “Melódia, peça para obrar!... Melódia,  peça para obrar!... Melódia.  peça para obrar!...  E os gritos só cessaram quando um parente do jogador Melódia apareceu para tomar satisfações com o marceneiro.

Mas apesar das peripécias, ele trabalhava no ofício de marceneiro com competência, responsabilidade e muita honestidade, sempre procurando entregar no prazo combinado os móveis encomendados.  Dentre os freqüentadores assíduos da tão conhecida “Oficina do Capinha”, destacam-se: os irmãos “Bergan e “Beto” de “Vavá Mendonça”, “Nenen de Zé Araújo”,” os irmãos Isaque, “Pelungo” e “Peloco”  de “Seu Joãozinho da Ilha do Ferro”, “Neco de Zé Monte”, “os irmãos “Zezinho”, “Helinho” e “Tonho de Ênio”, os irmãos Inácio e Washington de Cacilda, “Abraão de Gessé”, “ Vieira de Jofre”, os irmãos "Gia" e "Gal" de Joselita, os irmãos “Sivica e Buque”, “Edvaldo de Manoel Severo”, “Jaime de Manoel Guarda”, “os irmãos “Toinho”, “Nado” e “Duta” de “Sinhô Barbosa”, os irmãos “Pedro Casteado”, Edson, Daniel e “Canelinha”,  “Vavá de Aristides dos Anjos”, os irmãos Eli, Yvan e “Tette” de “Joãozinho Fialho”, os irmãos "Nino" e Márcio de Lacy, Nazian Maia e tantos outros contemporâneos.

A “Oficina do Capinha” também teve a presença constante do  anistiado “guerrilheiro de Caparaó”, Edival Augusto de Melo, na época em que este retornou ao Brasil e veio morar em Pão de Açúcar. São tantas as lembranças daqueles velhos tempos em que nos reuníamos naquele ponto de encontro para ouvir as suas tantas histórias e brincadeiras que até hoje são contadas por todos nós, freqüentadores da época, é claro, recheadas com sorrisos e gargalhadas.

O sepultamento foi nesta sexta-feira (31), às 17 horas, no Cemitério São Francisco de Assis, em Pão de Açúcar. Do sepultamento participaram poucos parentes e amigos, dentre esses, os familiares Capitão Givago Souza, Mary Souza, Alexandre, Sawana, Sara e a única filha que o imortalizado “Capinha” deixou, inclusive, com a cara do próprio, e os amigos Javan Souza, Manoel Pauferro, Eraldo Caldeira (Pirré), Helio Fialho, Sargento Acácio Machado e a professora Helena Machado e “Nêga de Paulo”.

 Com a morte de “Zé Capinha” o folclore pão-de-açucarense perde o seu ícone principal, restando apenas vivas lembranças e incontáveis histórias que tornaram imortalizado José Américo de Almeida. Que Deus o recebe na Morada Eterna!