Verdades sobre o cangaço

  • Redação
  • 22/12/2012 10:29
  • Cidades

O cangaço foi uma espécie de banditismo rural que existiu no sertão nordestino até o ano de 1940. Os cangaceiros invadiam cidades e povoados em número sempre maior que o contingente policial destes locais. Roubavam as bodegas e raspavam as gavetas.

Extorquiam e matavam impiedosamente. Sequestros, extorsões e estupros faziam parte de uma rotina diária. Por muitas vezes castraram homens em plenas feiras livres, marcando com faca as orelhas dos infelizes como se marca porco. Também, estupravam e depois ferravam as mulheres no rosto e nas nádegas, como se marca boi. O mais perverso e famoso foi o criminoso Virgulino Ferreira da Silva, vulgo lampião.

A equação macabra do cangaço foi: Cangaço = homicídios + latrocínios + chacinas + formação de quadrilha + pistolagem + roubos + extorsões + sequestros + estupros + ferro em brasa no rosto e nas nádegas das mulheres + castrações de homens + requintes de perversidade x 1.000 = Lampião e seus cangaceiros.

Sendo assim, a seguir venho a relatar apenas um dos crimes mais brutais, covardes e hediondos cometidos por lampião e seus cangaceiros. 10 homicídios em um único dia com requintes de perversidade no município de Jeremoabo-Ba.

A chacina da família Salina

Este foi um dos crimes mais brutais, covardes e hediondos cometido por lampião em terras baianas, contra família indefesa de lavradores pobres, honestos e trabalhadores do município de Jeremoabo. Este crime tem inquérito policial e consta no livro LAMPIÃO NA BAHIA, escrito por Oleone Coelho Fontes.

Manoel Francisco de Brito conhecido por Manoel Salina, era proprietário da Fazenda Almêcega, a 18 Km da sede do município de Jeremoabo. Em outubro de 1932, o Sr. Manoel Salina recebeu um bilhete de lampião, que exigia a importância de 5 contos de réis. Embora a importância significasse grande sangria na economia doméstica da família, Salina mandou entregar ao quadrilheiro o dinheiro exigido. Meses depois lampião, novamente passando pelas proximidades da Fazenda Almêcega, despachou outro bilhete para o velho Salina no qual exigia mais uma vez quantia igual à anteriormente estipulada. Desta feita Salina envia ao bandido apenas metade do que este havia solicitado, alegando dificuldades, família numerosa, compromissos, a seca, a quebradeira geral em que estavam mergulhados os sertões. Lampião, recebeu o dinheiro, mas não ficou satisfeito e mandou um recado ameaçando o Sr. Salina de morte, quando se encontrassem frente a frente.

Diante da ameaça e aconselhado por amigos e familiares, Sr. Salina decidiu estabelecer-se em Jeremoabo, onde poderia viver com segurança, pois Jeremoabo possuía um numeroso contingente de policiais e, lampião não entrava na cidade, porém, vivia pelas redondezas.
A cada semana mandava um dos filhos até a fazenda para ver em que pé estavam as plantações, as criações, as cabras, os bodes....., porém, o Sr. Salina começou a enfrentar problemas financeiros, pois vivia ociosamente em Jeremoabo e, decorridos alguns meses da ameaça, estando a plantação de mandioca madura para ser colhida, Salina resolveu fazer um adjunto com filhos, parentes e amigos, a fim de arrancar tudo de uma só vez, fazer a farinha e voltar correndo para Jeremoabo. Reuniu ferramentas, sacos, animais e caçoás com 5 filhos, 3 sobrinhos e 4 vizinhos.

Quando estavam fazendo a farinhada, lampião chegou ao local, agarrando o chefe de família, cercando toda a propriedade sem dar tempo a que nenhum deles conseguisse escapulir.
O velho foi amarrado. Um dos filhos imediatamente assassinado com um tiro de parabelo na cabeça. O segundo tem a mesma sorte: também tomba por tiro de igual arma, à queima-roupa. O terceiro que fora mandado subir no telhado para destelhar a casa, por nome Fabiano, ao observar a família ser friamente assassinada, pula e dispara mata a dentro, conseguindo escapar dos tiros que lhe são desfechados, não parando senão em Jeremoabo onde tenta conseguir socorro.

Escapam 2 filhas, conhecidas por Moça e Dá-Nega, para que fossem contar aos comandantes das volantes o que acabavam de assistir. Uma caiu sem sentido; a outra a tudo assistiu e foi quem narrou, com detalhes, a ocorrência em Jeremoabo, o sofrimento de sua família nas mãos de medonho sicário.

Os amigos de Salina, que se achavam presentes ao adjunto da farinhada, por nomes Boa Batata, João Grande e Antonio Batata, foram sumariamente fuzilados, juntamente com os filhos de Manoel, no mesmo instante.

O velho a tudo assistia, paralisado, talvez desejando que o quadro que se desdobrava em sua frente não passasse de atroz pesadelo.

Terminada a chacina e ateado fogo em tudo o que ali existia, Lampião arrebata Salina e corta-lhes as orelhas, castra-o, arranca-lhes as unhas, arrebenta todos os dentes, fura-lhes os olhos e o obriga a montar, assim mutilado, no lombo em pelo de animal e com ele dirige-se à casa de outro dos seus filhos, Ulisses. Este residia a alguns quilômetros do local da chacina, na fazenda Bandeira, de Ângelo Bandico, de quem era vaqueiro.

Ulisses, de 23 anos, casado com a filha de Severo da Malhada Velha, era pai de filha de apenas 2 meses. Antes de chegar a sua porta, Lampião reuniu o grupo, colocou Salina no meio sem que o filho tivesse conhecimento do estado em que o velho se encontrava, mostrou-o e acabou de matá-lo em uma descarga. Em seguida mandou abrir o corpo do mutilado a talho de facão, arrancar-se o coração e colocá-lo no terreiro ao lado do cadáver. E a malta hedionda também assassina Ulisses e arriba a galope.

Foi realizado um inquérito policial, sendo um drama jamais visto. Choravam os filhos, chorava a viúva, choravam os parentes e amigos e chorava toda a população.