Velho Chico: região é lembrada pelo coronelismo, analfabetismo e dificuldade de acesso à água

  • Diego Barros
  • 13/03/2016 17:58
  • Vazio

O coronelismo e suas influências na vida social e econômica de moradores pobres, trabalhadores urbanos e rurais será uma característica marcante da nova novela da TV Globo, Velho Chico, que estreia nesta segunda-feira (14).

Para alguns analistas políticos e moradores da região da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, no Sertão alagoano – que serviu de cenário para as gravações da primeira fase da trama – o poder concentrado nas mãos de poucas famílias, cuja sucessão da administração municipal passa de pai para filho, é prova de que o coronelismo continua existindo.

As famílias que historicamente dominam a política local são aquelas que, ao mesmo tempo, também somam bens materiais e grande poder econômico. Para ampliar sua influência, como já ocorreu em eleições passadas, nas eleições municipais deste ano membros de uma mesma família vão se lançar candidatos em municípios vizinhos.

Outro aspecto que marca a política na região sertaneja são os números do analfabetismo. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), referentes a dezembro de 2015, Monteirópolis lidera o ranking de municípios da região com o maior percentual de eleitores analfabetos: 28,73% deles não sabem ler nem escrever.

Em seguida vem Pariconha, com 28,70% de eleitores analfabetos. Em terceiro lugar está Água Branca, com 28,61% de analfabetismo entre as pessoas acima de 16 anos de idade. É provável que, na época retratada pela novela Velho Chico, esses percentuais fossem ainda maiores.

Por outro lado, também segundo dados do TSE, os municípios melhor colocados no índice de analfabetismo entre os eleitores, no Sertão alagoano, são Ouro Branco, com apenas 9,09%, Santana do Ipanema, com 9,93%, e Delmiro Gouveia, com 10,04%.

Além das dificuldades em relação à educação, os moradores dos municípios sertanejos também enfrentam dificuldades de acesso à água. Muitos deles, principalmente os que vivem na zona rural, dependem da chamada “indústria da seca”, ou seja, do abastecimento feito por meio de caminhão-pipa. Na zona urbana, também há localidades que, mesmo possuindo rede de abastecimento, passam meses sem receber água.

Para garantir recursos e, assim, fornecer água aos moradores, o governo do Estado reconheceu por meio de decreto, em dezembro do ano passado, situação de emergência por conta da seca em 41 municípios. O mesmo reconhecimento foi dado pelo governo federal, em março deste ano.

Paisagem tomada por algodão é cada vez mais rara

No Sertão, a economia encontra muita força, assim como na época que será retratada pela novela, na atividade agropecuária. Atualmente, a pecuária de leite é um de seus maiores expoentes e uma das atividades que mais empregam a mão de obra rural. Também merecem destaque a ovinocaprinocultura, a apicultura e a mandiocultura.

No cenário de Velho Chico, conforme as chamadas que são veiculadas na televisão, o “peso” cabia ao algodão. Foi devido à importância econômica do algodão em outras épocas, inclusive, que o município de Ouro Branco recebeu este nome. No século 21, porém, o algodão já não tem mais a pujança que será exibida pela novela.

A produção total de algodão em Alagoas, segundo dados do Anuário Estatístico do Estado, publicado pela Secretaria do Planejamento, Gestão e Patrimônio (Seplag), foi de apenas 8 toneladas em 2012, colhidas numa área plantada de 54 hectares e que renderam R$ 10 mil, ou seja, um valor insignificante para a economia estadual. Dessas, duas toneladas foram colhidas em Água Branca, uma em Campo Grande, duas em Mata Grande, uma em Olho D’água do Casado, uma em Pariconha e uma em Piranhas.

Em alguns municípios do Sertão, inclusive em Ouro Branco, o cultivo do algodão foi abandonado nas últimas décadas, devido a uma praga que assolou as plantações e, também, devido à falta de investimento em tecnologias e pesquisa pública para retomar esse cultivo.

Belezas naturais fortalecem o turismo

Conforme será exibido pela novela, o transporte de boa parte da produção agropecuária era feito por meio do rio São Francisco, uma vez que as estradas eram escassas e poucas delas eram asfaltadas. Isso também mudou. Com o represamento da água para produção de energia elétrica, a degradação ambiental e as estiagens dos últimos anos, trafegar com grandes embarcações pelo São Francisco, no trecho que fica após a represa de Xingó, já não é possível. A vazão dessa represa é, segundo o Ibama, de 900 metros cúbicos de água por segundo, o que compromete não só a navegação, como também a captação de água para abastecimento humano.

Apesar disso, as belezas naturais do rio São Francisco e dos municípios por onde ele passa estão mantidas e atraem cada vez mais turistas ao Alto Sertão de Alagoas. Os restaurantes com comidas típicas, os passeios pelo leito do rio, os banhos, a arquitetura de época, os museus e o entorno tomado pelo bioma da caatinga fazem do lugar único no mundo e que pode (e deve) ser visitado em qualquer época do ano.