CPI do 8/1 aprova relatório que pede indiciamento de Bolsonaro e generais
- Uol
- 18/10/2023 20:02
- Minuto Política
A base governista fez valer sua maioria e aprovou hoje (18) o relatório da CPI do 8 de Janeiro, que pediu o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por quatro crimes. Foram 20 votos a favor e 11 contra. O documento ainda acusou oito generais, um almirante e o núcleo duro bolsonarista de tentar um golpe contra a democracia.
O que acontece agora
O relatório será encaminhado ao STF (Supremo Tribunal Federal), à Polícia Federal e à Procuradoria-Geral da República. A PGR decidirá se acata os pedidos de indiciamento, dando prosseguimento jurídico ao caso.
A vitória do parecer, elaborado pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA), era esperada, porque os governistas tiveram maioria na CPI. Eles conseguiram aprovar a convocação de testemunhas de seu interesse e obter quebras de sigilo financeiro, de celular e de emails.
O resultado da votação foi o esperado pela base do governo. A previsão era obter entre 18 e 20 votos — o total é de 32.
A oposição apresentou dois relatórios paralelos ao de Eliziane. O principal foi elaborado pelo deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) e sugeriu o indiciamento do presidente Lula (PT), além do ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), e de outros ex-integrantes do governo atual. O segundo foi apresentado pelo senador Izalci Lucas (PSDB-DF) e também pediu o indiciamento de Dino.
A maioria governista se consolidou apesar de a CPI ter sido iniciativa da oposição. O requerimento de abertura, feito em maio, é do deputado bolsonarista André Fernandes (PL-CE). Foram quase cinco meses de trabalhos.
O poder do Planalto pesou sobre a escolha da cúpula da comissão. A relatora é aliada do governo e o presidente da CPI, deputado Arthur Maia (União-BA), tido como "independente", foi escalado pelo centrão.
O que diz o relatório aprovado
Eliziane pediu indiciamento de 61 pessoas. Os militares representam metade dos acusados — há 31 fardados na lista. Leia a íntegra do relatório final da CPI.
Houve solicitação de indiciar membros da cúpula das Forças Armadas. A situação é considerada consequência da adesão dos militares ao governo Bolsonaro.
O Exército viu oito generais serem alvo de pedido de indiciamento. A lista inclui até mesmo um ex-comandante, o general Marco Antônio Freire Gomes.
A Marinha também tem um ex-comandante acusado, o almirante Almir Garnier. Ambos ocuparam o cargo durante a gestão Bolsonaro.
Aliados próximos ao ex-presidente também foram alvo de pedido de indiciamento. Entre eles o o ex-ministro Anderson Torres, a deputada Carla Zambelli (PL-SP), o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques e Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro.
Bolsonaro se diz "indignado"
Bolsonaro afirmou hoje, após depor novamente à Polícia Federal, que a sugestão de indiciá-lo é "um absurdo". Ele disse que a comissão "temia alguma coisa", porque não o convocou para prestar esclarecimentos durante a investigação.
A fala do ex-presidente repete a nota emitida ontem pela sua defesa. O texto classificou o relatório como "parcial e tendencioso" e disse que o ex-chefe do Executivo recebeu a notícia de indiciamento com "indignação".
Apesar da declaração de Bolsonaro, parlamentares de oposição na CPI trabalharam para blindar o ex-presidente e evitar a convocação e a quebra de sigilo dele.
A trajetória da investigação
A CPI apurou o que aconteceu desde o resultado das eleições. A linha do tempo começa com o não reconhecimento da vitória de Lula (PT), o bloqueio das estradas e segue até a invasão e depredação da sedes dos Três Poderes.
Recontar esta cronologia gerou momentos de desgaste ao bolsonarismo. O ex-ministro Anderson Torres depôs usando tornozeleira eletrônica. O general Augusto Heleno, ex-ministro do GSI, soltou palavrões ao ser confrontado pela relatora.
A base governista afirma que conseguiu enfatizar que Bolsonaro e seus aliados tentaram um golpe. Para aliados de Lula, a comissão serviu como apoio político às investigações da PF e contribuiu para o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, decidir delatar.
A oposição também considera que obteve benefícios com a CPI. Acreditam que ao menos usaram a comissão para repisar a versão bolsonarista de que o governo Lula se omitiu em 8 de Janeiro.
Quem são os alvos dos pedidos de indiciamento
Jair Messias Bolsonaro - ex-presidente da República
Walter Souza Braga Netto - General do Exército, ex-ministro da Defesa, candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro na eleição de 2022
Augusto Heleno Ribeiro Pereira - General do Exército, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI)
Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira - General do Exército, ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, da Secretaria de Governo e da Casa Civil.
Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira - General do Exército, ex-ministro da Defesa
Almir Garnier Santos - Almirante de esquadra, ex-comandante da Marinha
Marco Antônio Freire Gomes - General do Exército, ex-comandante-geral do Exército
Mauro Cesar Barbosa Cid - Tenente-coronel do Exército, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro
Luís Marcos dos Reis - Sargento do Exército, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro
Ailton Gonçalves Moraes Barros - Ex-major do Exército
Antônio Elcio Franco Filho - Coronel do Exército
Jean Lawand Júnior - Coronel do Exército
Anderson Gustavo Torres - Ex-ministro da Justiça, ex-secretário de Segurança Pública do DF
Marília Ferreira de Alencar - Ex-diretora de inteligência do Ministério da Justiça
Silvinei Vasques - Ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal
Filipe G. Martins - Ex-assessor-especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República
Alexandre Carlos de Souza Silva - policial rodoviário federal
Marcelo de Ávila - policial rodoviário federal
Maurício Junot - sócio de empresas com contratos com a PRF
Carla Zambelli - Deputada federal
Marcelo Costa Câmara - Coronel do Exército, ex-ajudante de ordens da Presidência da República
Ridauto Lúcio Fernandes - General da reserva do Exército
Meyer Nigri - empresário e difusor de conteúdos no WhatsApp
Carlos José Russo Assumpção Penteado - General do Exército
Carlos Feitosa Rodrigues - General do Exército
Wanderli Baptista da Silva Junior - Coronel do Exército
André Luiz Furtado Garcia - Coronel do Exército
Alex Marcos Barbosa Santos - Tenente-coronel do Exército
Eduardo Natale de Paula Pereira - Major do Exército José
Laércio da Costa Júnior - Sargento do Exército
Alexandre Santos de Amorim - Coronel do Exército
Jader Silva Santos - Tenente-coronel da PMDF
Fábio Augusto Vieira - Coronel da PMDF
Klepter Rosa Gonçalves - Coronel da PMDF
Jorge Eduardo Barreto Naime - Coronel da PMDF
Paulo José Ferreira de Sousa Bezerra - Coronel da PMDF
Marcelo Casimiro Vasconcelos Rodrigues - Coronel da PMDF
Flávio Silvestre de Alencar - Major da PMDF
Rafael Pereira Martins - Tenente da PMDF
Tércio Arnaud Tomaz - Ex-assessor especial no Palácio do Planalto
Fernando Nascimento Pessoa
José Matheus Sales Gomes - Ex-assessor especial no Palácio do Planalto
Adauto Lúcio de Mesquita - empresário
Joveci Xavier de Andrade - empresário
Ricardo Pereira Cunha - integrante do grupo Direita Xinguara (PA)
Mauriro Soares de Jesus - empresário
Enric Juvenal da Costa Laureano - consultor da Associação Nacional do Ouro
Antônio Galvan - sojicultor
Jefferson da Rocha - advogado
Vitor Geraldo Gaiardo - sojicultor
Humberto Falcão - sojicultor
Luciano Jayme Guimarães - sojicultor
José Alípio Fernandes da Silveira - sojicultor
Valdir Edemar Fries - sojicultor
Júlio Augusto Gomes Nunes - comerciante
Joel Ragagnin - sojicultor
Lucas Costa Beber - sojicultor
Alan Juliani - sojicultor
George Washington de Oliveira Sousa
Alan Diego dos Santos Rodrigues
Wellington Macedo de Souza
“O golpe deve fazer uso controlado da violência. É preciso, sobretudo, que o golpe não pareça golpe. Por isso é importante atacar as instituições, descredibilizar o processo eleitoral, legitimar preventivamente a tomada do poder. É preciso tentar a destruição da democracia 'tijolo a tijolo', para que ninguém consiga perceber a erosão gradual”.
Trecho do relatório
Relatório poupou GDias
A lista de pedidos de indiciamento não incluiu o general Gonçalves Dias. Ele era o chefe do GSI no dia das invasões e aparece sem ação em imagens na antessala do gabinete de Lula.
Antes das gravações, reveladas pela CNN, não havia assinaturas suficientes para instalar a CPI. O general se tornou alvo da oposição para sustentar a tese de omissão do governo federal.
Foi argumentado pelos bolsonaristas que GDias, como é chamado, recebeu alertas e não reforçou a segurança do Planalto. Mas a relatora optou por não pedir o indiciamento.
“Não vislumbramos possibilidade de responsabilização do agente”. Trecho do relatório.
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