Qual é segredo da BYD para ter fábrica com fração do investimento de rivais

  • Uol carros
  • 18/03/2024 09:36
  • Minuto Digital

Nos últimos dias, a montadora chinesa BYD oficializou a instalação da sua fábrica em Camaçari, na Bahia, pagando R$ 287 milhões pelo complexo de 4,6 milhões de metros quadrados de área total onde um dia esteve a fábrica da Ford - cerca de R$ 63 por cada metro quadrado.

Até o final do projeto, serão três fábricas para a produção de chassis de ônibus, caminhões elétricos e veículos de passeio elétricos e híbridos, além de processar lítio e ferro fosfato. O que chama atenção é que a chinesa confirmou o investimento de R$ 3 bilhões, apenas uma fração do que diversas montadoras com fábricas já montadas aportarão no país em seus novos ciclos de investimentos.

Nas últimas semanas, o maior investimento anunciado foi de R$ 30 bilhões, pela Stellantis. O valor se refere ao lançamento de 40 novos produtos de cinco marcas até o fim da década. Já a Volkswagen vai investir R$ 9 bilhões no país entre 2026 e 2028, além dos R$ 7 bilhões já anunciados para aporte entre 2022 e 2026. Em um primeiro momento, a quantia contempla o desenvolvimento e a produção de quatro novos carros, previstos para 2024. Até 2028, serão 16 novos veículos.

A GWM, que vive um contexto mais parecido com o da BYD, de montar uma fábrica do zero, anunciou investimento de R$ 10 bilhões de 2023 a 2032. Estão confirmados quatro modelos, inicialmente, na nova planta - portanto, um plano menos ambicioso do que o da rival chinesa - que irá produzir carros, ônibus, caminhões, além do processamento de minerais.

As marcas com orçamentos mais parecidos com o da BYD, entre R$ 2,8 bi e R$ 5 bi, têm, no entanto, planos "menores". A Renault, por exemplo, vai investir R$ 5,1 bilhões de 2021 a 2027. Com essa quantia, são esperados dois SUVs e a produção de um powertrain híbrido. Já o investimento de R$ 4,5 bi da Caoa, aplicado entre 2021 e 2028, tem o objetivo de aumentar a produção do Tiggo 5X Sport, garantindo maior volume para a marca.

A Nissan, com R$ 2,8 bilhões, vai produzir dois novos SUVs e montar um motor turbo na fábrica de Resende, no Rio de Janeiro. Um deles será a nova geração do compacto Kicks e o outro deve ser um utilitário esportivo maior, para concorrer no segmento acima, com Jeep Compass e Corolla Cross.

Qual é o segredo da BYD?

Desde quando a marca chinesa confirmou a instalação de uma fábrica de veículos no país, diversos especialistas "cravaram" que a planta atuaria no modelo CKD.

Nesse processo, os veículos são desmontados em componentes individuais, provavelmente na China, antes do envio para o local de montagem final. Ou seja, os carros são produzidos em outro país e apenas montados no Brasil. Esse modelo demanda menos investimentos, já que a linha de montagem é mais simples.

A BYD confirmou ao UOL Carros que, em um primeiro momento, a produção será na modalidade SKD - nesse caso, o veículo chega ainda mais "montado" no Brasil, simplificando a operação da fábrica. O objetivo principal do SKD é reduzir custos de transporte e evitar tarifas de importação. Em muitos casos, o motor, a transmissão, a suspensão e até as rodas já são enviados montados.

Essa etapa, no entanto, de acordo com a BYD, deve durar apenas alguns meses e começar no fim deste ano. "Na etapa seguinte, que está prevista para começar entre 2024 e 2025, a BYD vai começar a produzir totalmente o carro no Brasil, com boa parte das peças produzidas nacionalmente".

Outra promessa da empresa é a criação de 10 mil empregos, sem especificar se serão diretos ou indiretos. Chama atenção que, ao anunciar o investimento, em 2023, a proposta era de 5 mil postos de trabalho. Apesar de dobrar a estimativa de contratações, o valor final do investimento não foi alterado. 

Volume gigante

Uma questão importante, quando se trata da produção de carros chineses, é que o país asiático é o maior mercado de veículos elétricos do mundo e muitas montadoras chinesas têm uma produção em escala significativa para atender à demanda interna.

Isso permite que elas produzam em grande quantidade e, potencialmente, reduzam os custos de produção. Para se ter uma ideia, a BYD vendeu, sozinha, 2,4 milhões de carros na China em 2023, um volume superior à venda de todas as marcas de veículos juntas no Brasil.