Candidato "póca urna" e o voto de cabresto

  • Redação
  • 25/09/2012 09:14
  • Fábio Campos

Faltam menos de duas semanas para que ocorram as eleições majoritárias 2012. Nas ruas, praças, becos, comitês eleitorais, repartições públicas, estabelecimentos comerciais, residências, a moeda de escambo é a fofoca eleitoral. Eleitores e candidatos entram num processo de estresse com o prenúncio do certame. O que no início era pura euforia, depois de intenso bombardeio, de comícios, carreatas, visitações, corpo-a-corpo, de ambas as partes, ninguém aguenta mais.

Tem websites especializados em descrever tipos de votos: Branco, Nulos, Válidos, De Legenda, Descoberto, Secreto. Tem voto Singular e Plural(!?), Direto e Indireto, Majoritário e Proporcional. Cada qual com suas particularidades.

Assim como o impedimento como regra no futebol, nunca entendi direito a questão do voto de Legenda. Legenda, associada língua inglesa, complica porque vem de legendary, que quer dizer lenda, lendário. Daí vira chacota.

Segundo consta, o Brasil é o país mais avançado no que refere-se a modernização na logística do processo eleitoral, pioneiro no uso da urna eletrônica. Até 1988 vigorava o sistema de cédulas eleitorais, que eram sufragadas dentro de urna de lona, e o leitor precisava em alguns casos escrever o nome do candidato ou o número. Tentando superar a dificuldade do analfabeto que passou a votar desde então, o “santinho” vinha com um molde vazado.

E existia a figura do escrutinador, o contador de votos. Um ginásio, um fórum ou qualquer repartição pública servia pra contar, varava-se a noite na contagem dos votos. Desse tempo surgiu a expressão “Candidato póca urna” uma alusão a possível exorbitância de cédulas no receptáculo de lona capaz de estourá-la. Já exerci esta função e a “bagaceira” de voto era feia: nome do candidato ao contrário, em local impróprio, de ponta-cabeça! 

Quanto ao voto de cabresto, refere-se àquele voto do eleitor, controlado pelo político, que muitos pensam não existir mais, ledo engano. No tempo dos coronéis era mais fácil manipular, pelo fato de não haver o esclarecimento, e a informatização atingindo os mais longínquos rincões, como hoje em dia. O político mantinha sob sua guarda os títulos eleitorais de seus “apadrinhados”, assim ficava fácil saber pra qual candidato o resultado daria.
Fato esse relatado em prosa e verso. Como disse Jessiêr Quirino na poesia “Paisagem do interior” 

Mastruz e erva-cidreira
debaixo dum jatobá
menino querendo olhar
as calça da lavadeira
um chiado de porteira
um fole de oito baixo
pitomba boa no cacho
um canário cantador
caminhão de eleitor
com os voto tudo vendido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior

Também o antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997) na sua obra “O Mulo”. relata: Nela, eu retrato o nosso povo roceiro, sobretudo os mais sofridos deles que são os negros. Além da espoliação de sua força de trabalho e de toda sorte de opressões a que são submetidos, nossos caipiras sofrem um roubo maior que é o de sua consciência.
E consta que: Um determinado político levou os empregados de sua fazenda para “votar”. Na hora de retornarem, já encima de um caminhão, um deles cheio de curiosidade pergunta:

-Coronel! Em quem foi mesmo que nós votamos?...

-Cala boca cabra!Você não sabe que o voto é secreto!


Fabio Campos 25.09.12 Breve no blog fabiosoarescampos.com o Conto: “No Poço das Águas Corredeiras”