A cultura do povo ou do povão?

  • Redação
  • 07/11/2012 19:38
  • Fábio Campos

Tenho a cultura como algo transcendental. Algo que a simples definição do vocábulo, por mais abrangente que pretenda ser, jamais alcança a totalidade de sua imensurável dimensão. Consultando o conceito limítrofe contido no webdicionário Priberam, "Cultura é: subst. fem. Arte, modo de cultivar; lavoura; conjunto de operações necessárias para que a terra produza; vegetal cultivado; meio de conservar, aumentar e utilizar certos produtos naturais; (figurado) aplicação do espírito a (determinado trabalho intelectual); instrução, saber estudo. Apuro; perfeição; cuidado."

Portanto, frases de pára-choque de caminhão, é cultura. Da mais rica manifestação cultural de um povo. Frases de pára-choque é folclore. Essas aqui faz tempo que as vi, porém nunca as esqueci:

“Vou rezar Um Terço, pra arranjar Um Meio de levar você pra Um Quarto”
“Em casa Maria reza, na estrada Mercedes Benz”
“Dirigido por mim, guiado por Deus”
“Se a mulher soltar o rabo, o homem leva chifre” Nessa última tem a gravura de uma mulher segurando o rabo de um boi brabo prestes a chifrar um homem.

O idioma é a mais autêntica, a mais completa a mais pura, expressão cultural de um povo. A língua pátria, excetuando os deslumbres do cronista, dá-nos a oportunidade de manufaturar, de forjar a ferro e fogo, vocábulos, a nosso bel-prazer! A partir do material vasto que dispomos a língua. Conforme nossa criatividade e versatilidade fruto fértil da miscigenação. Também nesse sentido somos um povo megalomaníaco, o que poderíamos perfeitamente aumentar relativamente, preferimos aumentar superlativamente. Por exemplo:

Uma “Queda no sistema de fornecimento de energia elétrica”, os americanos utilizam dois termos para designar: “Black out”. Nós chamamos de “Apagão”!  Um programa televisivo de todo domingo com o Fausto Silva de Âncora. Pra ficar com a cara do brasileiro vira “Domingão do Faustão”. Personagem do programa Esporte Espetacular: “João Sorrisão”!  E mesmo temas mais sérios e polêmicos como uma CPI por conta de “Desvios de Recursos do Erário Público”, vira “CPI do Mensalão”!  E povo, só é povo de verdade se virar “Povão”?

A modalidade para aquisição de bens, serviços comuns em que a disputa do fornecimento é feito em sessão pública, inclusive de ações da Bolsa de Valores é chamado de “Pregão”. Todo estádio de futebol tem seu nome oficial, considerando a magnitude que o esporte abrange, e os sobrenomes dos ilustres que homenageiam vão virar: “Arrudão”(Recife-PE), “Mineirão”(Belo Horizonte-MG), “Pinheirão” (Curitiba-PR). Agora imaginem se ao invés de se chamar Estádio da Cidadania, o maior estádio da cidade de Volta Redonda-RJ, resolvesse homenagear seu filho mais ilustre: Antonio Álvares da Cunha. O estádio se chamaria “Estádio do Cunhão”?!

Por que será que carro da polícia, se apelida de Camburão? Sanduíche grande vira “Sandubão”.
Carro de funerária “Defuntão”, carro do I.M.L. “Rabecão”. Aterro sanitário, “Lixão”. Um cara do corpo atlético é “Saradão”! Mulher que transa com mulher é “Sapatão”.

Pela cara que ela fez, parece que não gostou, mas mesmo assim (mais de uma vez). Domingo passado, Fausto Silva referiu-se a cantora Ivete Sangalo, chamando-a de, “Ivetão"!


Fabio Campos 07.11.2012 Breve no Blog fabiosoarescampos.com o Conto inédito: “Correntes e Acorrentados”