Sobre fuzis, assassinos e panelas de pressão

  • Bene Barbosa*
  • 19/04/2013 17:38
  • Artigos

Uma das vítimas fatais do covarde ataque durante a maratona de Boston tinha apenas oito anos. Seu nome era Martin Richard. Aguardava a chegada do pai que participava da corrida. Sua irmã, de apenas seis anos, teve as pernas arrancadas e a mãe traumatismo craniano. O pai esperava encontrar a família ao final da corrida. Encontrou-a, porém, dilacerada. Dor.

 Não há crime mais covarde e repulsivo que o terrorismo, não importando os motivos, não importando se interno ou externo, se de direita ou de esquerda, se de cunho religioso ou não. É um crime de um assassino covarde, que não tem coragem sequer de encarar suas vítimas, que cruelmente deixa que o acaso escolha quem estará no lugar errado, na hora errada. 

 Esse acaso covarde fará com que o pai maratonista de Martin se pergunte para sempre “e se eu não tivesse ido?” A mãe, se sobreviver, pensará que poderia ter ficado dez metros mais para trás, ou mais para frente… Abraçarão uma culpa que jamais será deles. Mais dor.

 Enquanto isso, ONGs e políticos oportunistas, inescrupulosos, se calam diante do meio utilizado no ataque, bem diferente do que costumam fazer quando há uso da “abominável” arma de fogo, que logo desperta o bradar de “verdades” e o correr de lágrimas de crocodilo. Desta vez, para contenção deles, não foi utilizado um fuzil que dispara “um milhão” de tiros por minuto, nem uma pistola que tem o carregador com “cem tiros”. Não. A arma do assassino foi uma panela de pressão, algum composto explosivo – muito provavelmente a mistura de fertilizante e combustível – e um celular.

 Como já disse em várias outras oportunidades, o resumo mais apropriado para mais esse caso está no dizer do ministro inglês David Cameron: “é impossível legislar sobre a loucura”. Ele não se referia à loucura clínica, mas, sim, a todo ato premeditado que, à vista de qualquer pessoa comum, seria um ato insano, de um psicopata, um assassino.

 O pequeno Martin Richard foi vítima de um assassino abjeto, e sua memória também o é daqueles que continuam usando o sangue inocente apenas quando lhes convém. Aqueles que negam que há pessoas muito, muito cruéis, capazes de semear a dor usando um fuzil, uma faca ou um panela de pressão. Triste mundo da negação. Que Deus o receba e conforte sua família, e as de todas as outras vítimas do ataque, que de agora em diante serão, para sempre, também vítimas da dor.

*Bene Barbosa é especialista em segurança pública e presidente da ONG Movimento Viva Brasil