MOTOCROSS: Taperense é a primeira mulher a participar de trilhas

  • Redação
  • 21/06/2012 11:47
  • Blog da Gracinha

Quem conhece Nathalia Prudente Mello consegue perceber a sua paixão por moto. A jovem universitária em direito de São José da Tapera surpreende a todos com suas manobras radicais e com os inúmeros troféus que ganhou ao longo de sua carreia ao participar de gincanas de moto.

Quem vê essa carreira brilhante não imagina que  tudo começou quando a sua mãe Vânia comprou uma moto para o seu irmão mais velho(Saulo) quando ela tinha apenas de 10 a 11 anos de idade.

Nathalia conta que, como ela era muito pequena e não sabia pilotar motos, acompanhava o seu irmão em todos os lugares, e isso valia até chorar um pouco só para poder ter o gostinho de andar na magrela.


Nessa época, era difícil saber que esses passeios se tornariam uma paixão e acarretariam a jovem uma nova missão cheia de adrenalina.

Foi aos 13 anos de idade que Nathalia participou da primeira gincana de moto levando o 2º lugar na classificação feminina.


Depois de um tempo, a simples adrenalina de uma gincana de moto não era mais suficiente para ocupar toda a paixão da Nathalia por duas rodas. A jovem descobriu que faltava algo. Para realizar o seu grande sonho, Ela esperou completar seus 18 anos e financiou a sua primeira moto, CRF, escondida de sua mãe e contou com uma pequena ajuda de um amigo carteiro que, a pedido da moça, entregava o boleto em mãos para ela pagar sem que a sua mãe percebesse.


“A Minha mãe hoje, sem dúvida, é a que mais me apoia. Ela só não tem coragem de assistir uma corrida minha na pista de Motocross ainda, mas vou levá-la para assistir uma de perto em breve” Conta Nathalia.

Em um meio dominado por pilotos masculinos, a jovem não se sente intimidada e faz a diferença nas pistas sendo a primeira alagoana a participar de eventos da categoria. “No começo foi complicado, não só os meus pais, como também os meus irmãos ficavam brigando dizendo que só tinha homens nesses eventos, mas nunca liguei para isso. Onde eu chego eu sei me posicionar e sei o meu lugar. Os homens só tiram brincadeiras com quem dá ousadia” afirma.

Ao se familiarizar no esporte, logo foi fácil destacar os seus ídolos no Motocross mundial, o Ricky Carmichael. Já aqui no Brasil, ela se inspira em Mariana Balbi, a qual considera a melhor pitola feminina brasileira de todos os tempos.

Por mais que esse esporte seja considerado apenas para homem, Nathalia deixa bem claro que hoje em dia não existe algo só para homens ou só para mulheres. Mesmo que, na mentalidade de algumas pessoas, ainda exista preconceitos.

“Já ouvi muitas mulheres falando que tinham vontade de participar de gincana de moto, mas não tem coragem. Até você mesmo, Gracinha, lembro que uma vez, a gente estava treinando com uns cones na rua, e você também estava com a sua moto lá passando entre eles.” relembra.


Em sua carreira são mais de dez anos de experiência pilotando motos. Por isso, a taperense se tornou na primeira e única mulher filiada à Federal Alagoana de Motociclismo e primeira alagoana no Motocross. Mesmo tendo que concorrer na categoria geral com os homens, diferente dos estados da Bahia, Pernambuco e Sergipe, que existe a categoria BATOM, exclusivamente para as mulheres, ela não desiste.


“Já recebi algumas críticas, não só pelos participantes, como também pelas pessoas em geral. Mas hoje isso é difícil de acontecer, a maioria me apoia, graças a Deus. Mas alguns homens não se conformam em perder para uma mulher. No mês de Abril, fui pra uma trilha em Capelinha, município de Major Isidoro, e a trilha passava pelas serras da cidade de Batalha. E nessa trilha tinha um homem que dizia: “ Eu vou conseguir chegar até o final , a menina conseguiu, por que eu não vou conseguir ?”

São esses tipos de comentários que fazem com que  a número 204 permaneça até o fim, mesmo que em alguns momentos precise dar uma recauchutada na saúde quando a pressão arterial resolve baixar  devido à adrenalina, isso deixa a motoqueira um pouco irritada. “É incrível, como em pleno século XXl, algumas pessoas ainda tenham uma mente fechada. É muito difícil ter preconceito, mas ainda acontece. Na maioria das vezes, os homens pensam que só por eu ser mulher, não vou aguentar chegar no final da trilha, mas eu faço questão de provar o contrário.”

Entre as competições que a alagoana participava, geralmente as premiações não tinham troféus. Dinheiro, pneus de moto, mata cachorro, etc, eram os tipos de premiações oferecidas aos participantes pelos organizadores.


Como o objetivo era ganhar espaço e respeito no mundo de duas rodas, mesmo não tendo patrocinador oficial, os prêmios pouco importavam para a Nathalia, que ganhou prêmios por suas colocações.


“Cada troféu que levanto sinto uma alegria imensa e a vontade de melhorar cada vez mais pra conseguir mais e mais vitórias. Um dia terei muitas histórias para contar aos meus filhos e netos. Sempre contei com o patrocínio único das empresas de minha mãe, conhecidas na cidade como dona Vânia ”


Além disso, definir as sensações ao estar de posse de sua moto deixa a jovem com um brilho no olhar. “Hoje posso dizer que já fiz tudo que sonhava, em relação à moto. Não existe coisa melhor que subir na moto e sentir aquele vento no rosto e no cabelo. Da uma sensação de liberdade.”


Quando se fala em futuro, a Nathalia é bem direta ao afirmar que não pretende seguir a carreira de advogada, e sim, prestará concurso público, mas trabalhará paralelo a sua paixão por Motocross.


Entre uma corrida e outra, este ano será realizado pela taperense um grande projeto em São José da Tapera. Depois de oito anos, ela vai ativar uma antiga pista de Moto Cross na fazenda de Zé de Araci, um antigo organizar do evento.

“Há algum tempo, ainda montei, juntamente com um amigo, um moto clube chamado ‘ Fim do silêncio’. Tinha componentes da cidade de Senador Rui Palmeira, São José da Tapera, Olho d'Água das Flores e Carneiros, mas não teve muito futuro, pois depois de alguns eventos que fomos, os meninos começaram brigar entre si.”

Seria possível definir em poucas palavras a sua paixão por motos?


"Essa paixão é inexplicável, ela apenas existe e é muito forte.E mais inexplicável ainda é não saber que estranha máquina é essa (moto) que nos aprisiona como um vício, e nos traz as mais incríveis sensações. Já perdi muitas coisas por conta dessa paixão e até pessoas muito especiais, deixei de lado muitas festas por um treino na pista de Motocross, mas não me arrependo de nada. Ainda parei por um tempo, mas hoje, olho pra trás e vejo onde cheguei, quantos amigos fiz. Cada vitória que tive dedico a todos que diziam que era ilusão ou que eu não conseguiria chegar até aqui," finaliza.