A auxiliar de professora Regine dos Reis Bezerra dos Santos, da creche Municipal Cristiane, do Povoado Pilões, em entrevista à rádio comunitária Liberdade FM, em São José da Tapera, no último sábado (10), falou sobre as péssimas condições de trabalho que comprometem o ensino e a saúde das crianças e funcionários.

De acordo com Regine, o que a levou a tornar público a situação precária da creche foi por causa dos sérios riscos que não só ela, bem como as crianças veem passando ao longo desses dez anos.

“Essa situação aqui não é nova. Vem se arrastando há muitos anos e não estávamos aguentando conviver com fezes de morcegos e ninhos de pombos. A última reforma foi feita na gestão do ex prefeito José Antônio e de lá pra cá, até papel higiênico falta,” revela a auxiliar de professora.

De acordo com Regine, na creche falta de tudo, inclusive materiais didáticos que só chegam a cada seis meses e mesmo assim, são em quantidades pequenas.  

“Aqui só chegam três potinhos de tinta guache, três caixas de lápis de cor de cera para passar esse tempo todo. Papel para fazer os desenhos? Temos que dividir uma folha ao meio para regrar e dar para passar o semestre. Já perdi as contas de quantas vezes tive que tirar do meu bolso para comprar papel para as crianças desenharem,” afirma. 

Nas denúncias também estão o banheiro que não é adaptado para criança, uma vala de esgoto a céu aberto, uma mesa improvisada da professora que é feita com um quadro quebrado. Teto em péssimo estado de conservação, porta quebrada e brinquedos velhos que são os únicos brinquedos da creche e ainda foram doados pelas próprias professoras.  Para agravar a situação, a auxiliar de professora conta que falta até merenda escolar, por isso, as crianças são liberadas as 9h da manhã.

“Elas nos olham com uma cara triste dizendo que estão com fome. Mas o que posso fazer? A solução é mandá-las embora. Se não temos o que dar pra ela, vamos deixá-las aqui? Fazendo o que? Olhando pra gente? ” questiona.  “ Veja as condições da cozinha! Material de limpeza dividindo o mesmo espaço com livros e utensílios domésticos. Temos que conviver com os ninhos de pardais e paredes sujas de fezes ou xixi de morcego e passarinhos. E ainda querem dizer que eu estou fazendo politica? Como se a situação é essa?”

Ao ser questionada se caso uma criança estivesse com sono, a creche disponibilizaria de leitos para ela dormir, a auxiliar de professora afirmou que apenas um edredom velho é forrado no chão para que as crianças possam dormir. Ela disse ainda que o espaço onde criança de 2, 3 e 4 anos brincam por falta de opção de lazer é em um quintal com piçarras, calçadas com buracos, algumas cerâmicas do piso quebradas.

"Para piorar, arriscando uma criança ter um acidente grave, cerca de arrame farpado são expostas aonde elas brincam. Sem contar com as raízes de arvores também expostas na frente da creche que podem acarretar as crianças levarem uma topada."

Ao ser procurada pela reportagem do Minuto Sertão, a responsável pela creche, Maria Helena Pereira, disse que essas denúncias da auxiliar são enxergadas como uma questão política, porque esses problemas levantados pela auxiliar de professora são existentes há muitos anos e só agora a funcionária resolveu tornar público.

“Há 7 anos eu trabalho na creche e ninguém nunca reclamou de nada. Isso é politicagem, porque as auxiliares sabem de suas funções. Elas têm por direito de acompanhar as crianças. Se elas deixam as crianças irem sozinhas para o banheiro e depois estão tirando fotos, ai já é para prejudicar,” disse Helena reconhecendo que realmente o banheiro não é adaptado para criança. “De fato o banheiro não tem adaptação e nem peniquinhos, mas é assim desde que foi construído na gestão do ex prefeito José Antônio. Então, não é de agora que vem errado.”

Helena disse ainda que, na semana que estava faltando papel higiênico por dois dias, ela foi comprar no mercado onde são feitas as compras do município, porém, como a conta do mês já tinha sido encerrada, ela não pode pegar o produto, mas estava com a pretensão de comprar com seu próprio dinheiro. Entretanto, na mesma semana sofreu um acidente de moto e diante do ocorrido esqueceu de levar o produto para a creche.

“ Todo material é entregue a quantia exata para as salas. Mas se deixar a criança brincar do jeito que ela quiser, estraga. Vou lhe dar um exemplo: se uma criança está com uma cola e a auxiliar não prestar atenção, ela vai derramar todinha. E aquela cola que seria para dois, três dias, acaba naquele momento. Se o material que chega é para passar um mês, vão ter cuidado e não estragar tudo em uma semana. Cabe a cada uma delas tomarem conta porque na creche não existe coisas de estoque, até porque não existe caixa escolar,” revela.

Uma reunião será realizada com as mães e a auxiliar de professora Regine na próxima semana no sentido de unirem forças para procurarem o promotor de justiça Luiz Tenório e oficializar as denuncias. No entanto, a  responsável pela creche informou que está aguardando a Secretária Municipal de Educação, Maria Helena Rodrigues Rosa convocar uma reunião com o prefeito Jarbas Ricardo e funcionários da creche no sentido de tratar sobre o assunto.